Compartilharei algumas reflexões sobre o mercado de fretes ferroviários. Partimos da premissa evidente: queremos mais ferrovias para oferecer um nível de serviço mais eficiente. Assim, como referencial teórico, temos a precificação de fretes, em que algumas considerações serão traçadas a partir dos casos do açúcar e do álcool.
A atividade sucroalcooleira também pleiteia uma ferrovia mais competitiva e generalizada. Este modal perdeu a credibilidade ao longo do tempo. No passado, as pessoas acertavam os seus relógios quando o trem passava numa estação. Eles não falhavam. Esse saudosismo prevalece e ajuda resgatar a confiança perdida.
Um dos pontos de preocupação do usuário está na prática de uma tarifa justa pelo serviço oferecido. Isso significa falar de referenciais teóricos para a precificação de fretes. No caso da ferrovia, invariavelmente, o benchmarking é a sua comparação com a rodovia, apesar de o País contar com mais de 200 mil quilômetros de estradas pavimentadas e menos de 30 mil quilômetros de trilhos.
Na verdade, não dá para definir a solução logística mais interessante quando se compara o serviço de transporte entre a ferrovia e a rodovia, porque as suas organizações são totalmente distintas.
No ambiente rodoviário, prevalece o mercado spot, sem contratos formais. O seu principal fator para calcular o frete é distância. A precificação é bem clara, até pela sua alta concorrência. A entrada e a saída de agentes no mercado não oferecem grandes obstáculos. A grande conta é feita em cima da distância a ser percorrida. No caso da ferrovia, a distância não é uma variável mais importante. Existe a questão de volume, da escala e da própria regularidade dos fluxos, sendo que no mercado de frete predomina o modelo de contrato formal.
Na verdade, os fretes rodoviários e ferroviários são explicados de formas distintas. Por isso, é questionável a prática antiga de se aplicar um desconto no valor de frete rodoviário para calcular o ferroviário. Como fazer essa operação em cima de uma grandeza explicada de forma diferente? Esse é um ponto importante para refletirmos.
A novidade que esperamos compartilhar está na falta de uma planilha de custo ferroviário. Na internet, se o custo de transporte rodoviário aparece em muitas planilhas, para o custo de transporte ferroviário será surpresa caso apareça alguma.
Para comparar os valores de frete rodoviário e ferroviário para cargas do segmento sucroalcooleiro, trabalhamos com informações de frete relacionadas à movimentação de açúcar e álcool do Estado do Paraná, nos fluxos para Paranaguá. O período corresponde ao de 2007 a 2009, e as distâncias variavam entre 400 e 700 quilômetros.
Para o açúcar, o valor de frete ferroviário, a princípio, parece ser competitivo. A percepção é que, conforme a distância, o valor do frete ferroviário assume uma posição superior ao suposto valor de frete rodoviário correspondente. Na faixa de 400 quilômetros, o valor do frete rodoviário é 4% mais barato que o ferroviário. No outro extremo, na faixa de 700 quilômetros, o valor de frete rodoviário é 3% superior ao ferroviário.
Na amostra trabalhada, foi apurada uma alta variabilidade nos valores dos fretes ferroviários. Isso não deixa de ser uma questão de mercado. Como todos querem usar o modal, aumenta a demanda pelo seu transporte, e o valor do preço do serviço pode aumentar.
A diferença entre os valores de fretes rodoviários e ferroviários foi muito pequena. Como a região recebeu uma série de investimentos, como a instalação de um terminal de transbordo, ficou claramente caracterizada a dependência de uma série de usuários para com o transporte ferroviário.
O mesmo tipo de exercício foi feito para etanol. Para a faixa de distância de 400 a 700 quilômetros, percebemos um descolamento maior entre o valor das curvas de frete, com o rodoviário mais claramente superior ao ferroviário. Para 400 quilômetros, o valor do frete rodoviário é 7% superior ao ferroviário. No outro extremo, de 700 quilômetros, o valor de frete rodoviário é 15% superior ao ferroviário.
Essa pesquisa oferece algumas reflexões, como a necessidade de uma estrutura clara de custos ferroviários, para auxiliar nas tomadas de decisões por parte de embarcadores diversos. A ANTT tem se preocupado com isso, tendo contratado estudo que será divulgado em breve.
Falamos de custos, inclusive, à luz dos marcos regulatórios existentes. Tivemos acesso a um contrato de concessão da Malha Sul em que se faz a menção de que a maior visibilidade das planilhas de custos ferroviários auxiliará o usuário, com elevado grau de dependência do transporte ferroviário, na negociação e contratação de tarifa específica. Essa também é uma informação importante para ser compartilhada, pois a agência reguladora tem um papel fundamental para o sucesso desse tipo de ação.
Fonte: José Vicente Caixeta Filho, Professor e diretor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq)
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